Uma nova guardiã do ritmo: Giovanna Paglia assume seu lugar na história da Portela
Havia algo diferente no ar quando Giovanna Paglia entrou em cena: uma mistura de força suave, precisão artística e um brilho ancestral que parecia atravessar gerações. A Portela, com seus mais de cem anos de tradição, assistiu de perto ao nascimento de um marco — pela primeira vez, o naipe de xequerês é conduzido por uma mulher que carrega consigo o peso da representatividade e a leveza de quem transforma som em narrativa.
A trajetória de Giovanna explica o encanto. Do universo da dança ao universo percussivo, ela sempre buscou territórios onde corpo e memória dialogassem. No Agbelas, seu movimento voltado ao estudo e à expressão das matrizes afro-brasileiras, ela lapidou um olhar que vê na música não apenas ritmo, mas cura, identidade e pertencimento. Não é surpresa que sua condução na Portela vá além da técnica: ela inspira, acolhe e forma outras mulheres para ocupar seu espaço com dignidade e voz.
Durante o minidesfile, o público testemunhou mais que uma apresentação — testemunhou um rito. A imagem de Giovanna liderando a fileira de xequerês, entre concentração e doçura, reafirmou que o Carnaval é também território de afirmação feminina. Cada giro do instrumento parecia desenhar no ar o mapa de um futuro possível, onde tradição e renovação caminham lado a lado, em perfeita harmonia.

